O sexo é uma atividade natural do desenvolvimento humano, embora questões culturais e sociais possam ter influência sobre ela. Além da finalidade da procriação, praticar sexo proporciona prazer, satisfação e bem estar físico e emocional. Portanto, quando não há prazer durante o ato sexual, desconfie: algo está errado!

A instabilidade da vida sexual, além do prejuízo à saúde do indivíduo, causa um impacto importante nos conflitos entre o casal. Ao fazer “sexo por fazer”, sem prazer, aparecem questionamentos: por que estou fazendo isso? Quanto tempo meu parceiro(a) irá suportar? A partir deste momento é comum surgirem comportamentos evitativos relacionados à culpa, à sensação de inaptidão ou despreparo, ao medo do abandono e de não ser amado. Não é natural sentir dor antes, durante e/ou após a relação sexual.  Se isso estiver acontecendo com você é melhor procurar ajuda profissional.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V), o comprometimento das funcionalidades sexuais é caracterizado por uma “perturbação clinicamente significativa na capacidade da pessoa responder sexualmente ou experimentar prazer sexual, ou seja, pode haver implicações relacionadas à indisponibilidade para o desempenho da prática sexual e na satisfação”. As queixas sexuais estão relacionadas a maneira como uma pessoa vai reagir ao sexo ou sentir prazer na pratica da atividade sexual.  As perturbações sexuais podem acontecer ao longo da vida desde a iniciação sexual ou serem adquiridas a partir de determinado momento. As disfunções mais comuns são:

  • Ejaculação Retardada – demora acentuada ou incapacidade de atingir a ejaculação;
  • Ejaculação precoce/prematura – ocorre antes ou logo após a penetração (vaginal /anal), avaliada de acordo com uma percepção individual.
  • Transtorno Erétil Masculino – irregularidade para obter ou manter ereções durante atividade sexual repetidamente;
  • Transtorno do Orgasmo Feminino – dificuldade para atingir o orgasmo ou intensidade reduzida das sensações orgásmicas;
  • Transtorno do Interesse/ Excitação Feminino – ausência, frequência ou intensidade reduzida do desejo sexual observada por pelo menos seis meses , não sendo suficiente a discordância entre a vontade do parceiro(a) fazer sexo e a sua.
  • Transtorno da dor Genito-Pélvica/Penetração: evitar relações sexuais devido a sensações dolorosas durante a penetração vaginal com tensão nos músculos da pélvis.
  • Transtorno do Desejo Sexual Masculino Hipoativo – a discordância entre a vontade do parceiro(a) fazer sexo e a sua também não é critério suficiente para o diagnóstico deste transtorno. A persistência ou repetição, por aproximadamente seis meses, da falta ou desejo baixo para o sexo e a diminuição ou ausência de pensamentos ou fantasias eróticas são fundamentais para a determinação do transtorno.

Sexo, vida conjugal e social:

Cada vez que nosso desempenho sexual não corresponde ao que esperamos, nos sentimos frustrados. Nos preocupamos diante da possibilidade dessa situação desconfortável acontecer de novo. Percebemos, portanto, que este é um assunto perturbador relacionado à vida íntima do indivíduo. Por consequência, a dificuldade em dialogar sobre este tema no círculo social pode estar presente. O medo do julgamento da sociedade pode gerar embaraço e receio de ser alvo ofensas.  As imagens negativas relacionadas ao desempenho sexual implicam em um abalo na autoestima, principalmente, quando apontam comprometimentos na autoimagem, na autoconfiança e/ou “autocompetência”. Desse modo, a vergonha de expor uma fragilidade pode prejudicar a identificação, aceitação e busca por tratamento.O sofrimento físico e emocional nas disfunções sexuais

Segundo o psicólogo Antônio Carvalho: “a boa funcionalidade sexual é a peça chave na qualidade de vida dos casais”. No imaginário popular uma boa função sexual está relacionada às capacidades do homem de manter uma boa ereção e o controle ejaculatório, bem como a mulher ser capaz de atingir múltiplos orgasmos. Essa ideia provoca muita ansiedade na tentativa de corresponder a um funcionamento padrão e menosprezando o prazer. As sensações prazerosas são deixadas de lado. Sendo assim, a satisfação fica associada diretamente à ereção e ao orgasmo, ignorando outras múltiplas experiências eróticas que podem levar à satisfação sexual. No momento em que não conseguimos corresponder ao ideal que preestabelecemos de normalidade a angústia aparece.

Aspectos que influenciam as funções sexuais:

  • Fatores relacionados ao parceiro (problemas sexuais, estado de saúde);
  • Motivos associados ao relacionamento (carência ou ausência de comunicação, desacordo quanto ao desejo para a atividade sexual);
  • Elementos relacionados à fragilidade pessoal (dificuldades com a imagem corporal, história de abuso sexual ou emocional, traumas);
  • Presença de desordens psiquiátricas associadas (diagnóstico prévio de depressão e/ou ansiedade, por exemplo);
  • Condições estressoras (perda de emprego, luto, término de relacionamento etc);
  • Fontes culturais ou religiosas (bloqueios relacionados à abstinência de atividade sexual ou prazer, atitudes em relação à sexualidade, medo de estar realizando algo que seria desaprovado);
  • Razões médicas importantes para a evolução e sequência do tratamento.

Observar, identificar e investigar esses critérios auxilia no reconhecimento da causa e no projeto terapêutico a ser adotado pelo profissional que irá acompanhar o caso.

Como cuidar das disfunções sexuais?

O tratamento mais indicado para o restabelecimento das funções sexuais é a combinação entre os cuidados médico e psicológico. A medicina irá focar no equilíbrio hormonal e anatomia da região genital. Já o psicólogo poderá trabalhar as questões emocionais e conflitos sociais relacionados como causa e/ou consequência da enfermidade sexual. É fundamental a busca por profissionais que respeitem a condição integral do paciente. O especialista competente irá observar as questões biológicas, psicológicas e sociais que podem estar relacionadas ao problema relatado.

Ao prolongarmos a busca pelo tratamento adiamos a resolução do caso e este pode inclusive se intensificar com o passar do tempo. A psicoterapia potencializa e colabora com o trabalho médico, influenciando diretamente na duração do processo de reabilitação do paciente. Além disso, outros benefícios da técnica psicoterápica são: a construção do autoconhecimento direcionada redescoberta do seu desejo; elevação da autoestima; desenvolvimento da autoconfiança; gerenciamento da autocrítica; controle da ansiedade; treino em habilidades sociais, incluindo a capacidade de se comunicar de forma clara. Não podemos ignorar que durante o tratamento a queixa sexual está relacionada sempre ao casal, embora apenas um dos parceiros possa estar disposto a buscar ajuda.

Referências Bibliográficas:

American Psycatric Association. Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-V) 5ª Ed. Artmed Porto Alegre, 2014 Págs 423-450.

Carvalho, A. Disfunções sexuais in Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais. Bernard Rangé & Col,2ª ed. Artmed, Porto Alegre 2011. Págs 508 -525.