Não espera-se pouco de uma Super Mulher. Porém, a figura imaginária idealizada em nada se parece com a da amazona Diana de Temíssera, a Mulher Maravilha. Embora empoderada pelas conquistas feministas da segunda metade do século XX, a mulher não contava com o ônus do acúmulo de funções. Mesmo trabalhando e votando, não ficou claro que a mulher não é a única responsável por cuidar dos filhos e da casa. A articulação entre carreira, maternidade e cuidados domésticos mostrou-se um desafio extra à lutas pela igualdade de direitos. 

Ao longo da história da humanidade, ideias e pensamentos presentes na sociedade interferiram na forma como entendemos, hoje, a mulher-mãe. Segundo entrevista concedida à Folha de São Paulo, publicada no último dia 04 de junho, a cantora baiana Pitty (39 anos) afirma:

“A maternidade é tão idealizada, tão associada a um negócio divino, sagrado, como se a mulher virasse meio santa quando está grávida, que eu acho que as pessoas esquecem que tem uma pessoa real ali passando por isso.”Pitty
A imagem mítica construída sobre a transformação da mulher em mãe é carregada de moralidade. Às vezes, a carga fica pesada!

Maternidade, Carreira e Sentimento de Culpa.

A coletividade em que vivemos ainda costuma esperar que a mulher torne-se mãe, mas não uma mãe qualquer. Existe um modelo de perfeição a ser seguido e tudo que a afaste desse paradigma a condena a um crime hediondo. À mulher sobra a culpa por não corresponder às expectativas da sociedade. O sentimento de culpa é sentido após repensarmos sobre uma ação já realizada que não atendeu as nossas expectativas prévias. Quanto mais distante estivermos da imagem idealizada, mais severa será a sensação angustiante.

O remorso gerado pela sensação de ter cometido um “crime”, pode causar sofrimento na relação mãe-bebê. A mulher sente-se distante de si mesma e não consegue sentir-se capaz cumprir seu papel materno suprindo todas as necessidades do bebê. Em contrapartida, o filho, embora muito pequeno, sente-se culpado por não corresponder às expectativas da mãe. A partir disso, caso não haja intervenções, pode ser observado um processo de adoecimento da dupla.

A visão que impõe à mulher a “obrigação” de se tornar mãe e de zelar pelo cuidado dos filhos pode se mostrar problemática em relação à nova organização social do trabalho, que não espera que a mulher se limite à esfera doméstica e permite que ela possa trabalhar fora de casa. A renda da mulher, hoje em dia, não atua somente como complemento, muitas vezes ela é a fonte primária do sustento familiar. Por isso, muitas mulheres optam atualmente por terem menos filhos, não tê-los, ou deixar esses planos para mais tarde. As que escolhem a maternidade, somente sentem-se seguras para assumir tal responsabilidade se podem, sozinhas, garantir o seu sustento e o de seus filhos. Assim, priorizam sua carreira, procurando a tão sonhada estabilidade financeira e o reconhecimento profissional para, através de seu esforço e sucesso, obter sua realização pessoal.

Dividir para conquistar!

Sustentar essa posição de solidão para lidar com essas preocupações pode ser muito opressor, sufocante e despertar sensações de desamparo. Portanto, nem sempre essa pode ser a melhor estratégia. É preciso reconhecer seus limites e dividir as responsabilidades com outras pessoas. Estruturar e reconhecer uma rede de apoio pode ser muito valioso para se reequilibrar emocionalmente. Mesmo nesse momento bate uma culpa por pensar em terceirizar o cuidado dos filhos. Essa atitude é, ainda hoje, muito criticada por uma parcela conservadora da população, que não conseguiu assimilar a evolução das conquistas femininas.

A equipe PsiAlternativas estimula às mulheres pedirem auxílio dos pais, parceiros, parentes, amigos e instituições pedagógicas. Muito valiosa é a busca da ajuda psicológica para entender o seu momento, compreender-se e reencontrar sua identidade evitando o adoecimento. Orientamos também a procura por seus direitos legais e de seu filho.

Lembre-se: não existe receita para ser uma boa mãe! Você faz o melhor que pode, mas se o papel materno estiver sofrido, não há nada errado em pedir ajuda! Não se esqueça de reservar um momento para você. Tente priorizar as tarefas mais importantes do dia, mas não exija de você cumprir tudo em um dia só. Além disso, busque hábitos mais saudáveis que trarão mais disposição e motivação para realizar as atividades diárias.

Referencial Bibliográfico

BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. 2a ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, 370p

CINTRA, S. R. Genealogia do sentimento materno: a influência dos imperativos sócio-culturais e da construção da identidade feminina na valorização do amor materno e suas consequências durante e após a gestação. In: Psicópio: revista virtual de psicologia hospitalar e da saúde, ano VI, n 12, Ago 2010 a Jan 2011, ISSN 1982-9299.

SEIXAS, A. M. R. Sexualidade Feminina: história, cultura, família, personalidade & psicodrama. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 1998. 282 p.