Ser pai não é fácil, não vem com manual. Essa é uma tarefa que se aprende dia a dia, construída na relação com seu filho(a). Muito se fala na culpa que a mãe sente em relação a criação do filho, mas precisamos lembrar o quanto a tarefa paterna é desafiadora e gera impactos decisivos no desenvolvimento infantil. As angústias de um pai que não consegue atender as suas expectativas em relação a paternidade precisam ser reconhecidas, visto que causam impactos na construção do relacionamento afetivo entre pai e filho. A presença da figura paterna é determinante para o desenvolvimento moral, social, emocional e psicológico da criança. Em sua ausência, o indivíduo pode desenvolver questões relacionadas à insegurança (dificuldade de autonomia e independência), tornar-se hostil, agressivo e com grandes problemas de sociabilidade.

Ao longo de séculos, a sociedade se constituiu sob uma predisposição patriarcal. De acordo com esse ponto de vista, os papeis materno e paterno foram sempre bem definidos e relacionados às figuras femininas e masculinas, respectivamente. Enquanto os homens traziam o sustento, tomavam as decisões mais importantes da família e impunham as leis na casa, cabia à mãe realizar as tarefas domésticas e cuidar das crianças. A figura paterna, até então exclusivamente masculina, ficava distante da participação na educação dos filhos. O pai, deste modo, tinha poucas oportunidades de demonstrar afeto e estreitar os laços familiares.

Diante das mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas, a família se reconfigurou, tornando-se mais flexível e dinâmica. Não é incomum vermos famílias constituídas por dois pais ou duas mães, além da estrutura tradicional. Não podemos ignorar também as famílias monoparentais, onde apenas um dos responsáveis estão presentes e precisam desempenhar mais de uma tarefa no desenvolvimento infantil. Por isso, é importante ressaltar que a paternagem não é tarefa exclusiva do pai biológico. A criança poderá encontrar  uma referencia paterna em outras pessoas, como tios, avós, primos ou irmãos.

O pai contemporâneo, além de colaborativo e participativo, está mais consciente de que sua responsabilidade vai além do fator biológico, ou de provedor financeiro, englobando as habilidades de educador e formador. É notório uma predisposição maior para a escuta e aversão ao modelo autoritário e distante de outros tempos. Porém, é importante analisar o limite tênue entre o pai amigo e o pai permissivo. Um excesso de abertura, por medo de dizer não e se caracterizar como o vilão, pode impedir o pai de estabelecer limites valiosos.

A função do pai no desenvolvimento da criança está relacionada ao afrouxamento da vinculação entre mãe e bebê. O pai se constitui como alguém diferente da mãe. A diversidade dos papéis proporciona experiências inéditas à criança, desempenhadas de forma única. Oferecendo limites e impondo regras, a figura paterna torna evidente à criança a ideia de que a mãe não estará sempre disponível para ela e que será “preciso caminhar com as próprias pernas” para alcançar seus objetivos.

A presença da figura paterna estimula o movimento em direção ao desejo, estimulando o indivíduo a se sentir capaz de buscá-lo. Desta forma, fortalece a autoestima, autoconfiança e autonomia da criança. Uma defesa funcional é criada para lidar com as adversidades da vida cotidiana e previne distúrbios emocionais e psicológicos ao longo da vida. As crianças que não conseguem se desprender da figura materna tendem a ser mais introspectivas, resistindo à novas experiências. Este fato as torna mais fechadas, medrosas e intempestivas.

Destacamos que mãe e pai, em conjunto, sabem o que é melhor para seu filho(a). O casal parental deve estar disposto a se comunicar para negociar na tomada de decisões e partilha das responsabilidades sobre a criação de seus filhos. Contribuir financeiramente e residir na mesma casa, não são fatores que asseguram a função paterna. Paternar vai muito além desses aspectos e deve incluir: afeto, amor e cuidados. Quando a figura estiver ausente, a família poderá suprir essa carências e necessidades. Os cuidados que envolvem contato físico dão origem e estreitam laços.

A Equipe PsiAlternativas busca auxiliar os pais, ou seus substitutos, a desenvolver essa desafiadora tarefa. Estimulamos esses indivíduos a trabalharem suas questões pessoais que podem interferir na sua forma de ser pai. Salientamos a importância de participar da vida de seu filho, assumindo tarefas rotineiras como, colocar para dormir, ler histórias, passear, buscar na escola, cuidados pessoais, de higiene e alimentação.  Afinal a responsabilidade pela educação do filho é compartilhada.

Homem, Paternidade e Exigências Sociais

Historicamente os homens foram educados em um processo que desestimula o contato com seu corpo, sentimentos e reações emocionais. Foi imposto que para tornar-se homem era preciso controlar seus afetos, comportamentos e ações ligadas ao cuidado. E para muitos, ainda é difícil se desconectar dessa imagem, reflexo da sociedade patriarcal, e se permitir entrar em conexão com novas possibilidades de ser humano, sem perder sua identidade e masculinidade no processo. A dificuldade de adaptação às mudanças do mundo geralmente traz angústia. Esse sentimento pode se intensificar ao longo do tempo, caso não haja espaço para refletir, elaborar e se libertar das imposições sociais. O homem, dentro dessa perspectiva, adoece por não conseguir interiorizar noções de autocuidado e cuidado com o outro.

Nesse caso, a partir da chegada do bebê, é comum o homem se sentir deslocado e desvalorizado nas suas ações, em comparação às atividades desempenhadas por quem materna. É necessário dizer que a tarefa paterna é de suma importância neste período. Quem exerce a função paterna irá cuidar do seu parceiro(a), sendo seu maior apoio. Pode então garantir que o papel materno seja desempenhado integralmente ao alimentar o bebê regularmente. Além disso, revezar o cuidado permite que seu par possa descansar. É preciso que a mãe ofereça espaço para o pai atuar. Um excesso de zelo pode impedir que ela reconheça a capacidade do pai de ajudá-la e aceitar sua colaboração. Este fato pode ser fruto de ideias preconcebidas por uma sociedade que julga o homem rotulando-o como “sem jeito” ou com menor capacidade para educar crianças.

A sociedade impõe ao homem a paternidade de súbito. Tudo acontece de repente: “seu filho nasceu, agora você é pai”! Durante nove meses a mulher experimenta diversas mudanças físicas, hormonais e mentais.O homem, portanto, tem uma desvantagem na construção do vínculo parental pois não há preparação para a chegada do bebê. Entretanto, da mesma forma que a mulher, o homem tende abandonar os papéis anteriores. A dedicação exclusiva do exercício da paternidade, ao invés de auxiliá-lo pode trazer mais angustia diante da sensação de perda de identidade. Ao abrir mão do sujeito que exerce outros papéis – marido, filho, amigo, trabalhador, etc – o homem pode não se reconhecer mais.

Participar das tarefas de rotina fortalece o vínculo entre entre o pai e os filhos.

Diante de tantas pressões, o homem pode desenvolver questões relacionadas à autoimagem, autoaceitação e, principalmente, autoconfiança, comprometendo o desempenho da função paterna. Não há mérito em ser um pai que cuida dos filhos, trabalha e auxilia nas tarefas domésticas. Essas são características humanas que independem de gênero. Homens e mulheres podem assumir as responsabilidades e prazeres por educar seus filhos de maneira partilhada e equilibrada. Deste modo, a tarefa torna-se colaborativa e não sobrecarrega nenhum dos dois lados, materno ou paterno.

Ser Pai e as Relações de Trabalho:

Engana-se quem pensa que apenas as mulheres são afetadas por uma sociedade machista. O papel masculino de provedor é, também, histórico e determinado socialmente. Essa ideia preconcebida traz reflexos sobre o exercício da paternagem. Precisa-se reconhecer a necessidade de mudar esse contexto, considerando as implicações na formação do vínculo entre pais e filhos. Nas relações de trabalho, por exemplo, ainda é comum alguns chefes reagirem com menosprezo e ironias quando um homem da equipe pede para sair mais cedo e comparecer à reunião de pais na escola ou solicita licença paternidade.

A Licença Paternidade é um direito constitucional o qual estabelece apenas 5 dias corridos de afastamento ao pai no momento do nascimento de seu filho. Porém, a Constituição deixou aberta possibilidade de ampliação desse prazo, até que atualizações judiciais pudessem decidir de outra maneira. Em março de 2016, a então presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 13.257/2016, estabelecendo a ampliação da licença-paternidade para 20 dias. A regra, contudo, vale apenas para os trabalhadores de empresas inscritas no Programa Empresa Cidadã. Independente da legislação, algumas empresas alteraram suas políticas institucionais e estabeleceram um período de afastamento ainda maior, como no caso do Google para 12 semanas.

Em entrevista a Revista Exame o gerente de benefícios do Google, Paulo Bento, ao ser questionado sobre a ampliação da licença responde: “Quando se discute o papel de cada um no contexto familiar, entendemos que a responsabilidade da criação e do cuidado dos filhos não é apenas da mulher. O papel do pai vai além de ajudar, é uma questão de divisão de responsabilidades. Entendemos que precisamos permitir que os pais tenham essa participação mais ativa”.

A Equipe PsiAlternativas apoia iniciativas que estimulem o pai responsável, e frisa a importância que tais políticas institucionais terão no ganho na qualidade de vida da família, na Saúde do Homem, e no desenvolvimento infantil. Este texto é destinado a todos os pais que reservam seu tempo para educar seu filho:  brincando ou repreendendo quando o necessário; que oferecem suporte para escutar as necessidades de suas crianças permitindo que se tornem adultos seguros e confiantes; que admitem sua condição humana imperfeita e a utilizam para se superar a cada dia. Feliz Dia dos Pais!