Inegável que estamos vivendo tempos perturbadores em nossa sociedade. Uma rotina de vulnerabilidade tem tomado conta das cidades. Neste texto buscamos nos centrar na realidade da cidade em que atuamos, Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa tem convivido com o descaso das autoridades em atender suas necessidades básicas de segurança, educação e saúde. No dia do psicólogo, 27 de agosto, gostaríamos de compartilhar o reflexo de questões que chegam ao consultório em forma de adoecimento.

Problemas todos temos é verdade, porém algumas pessoas estão mais expostas e menos estruturadas para lidar com suas consequências. Assuntos como a violência, instabilidade financeira, desemprego, intolerância encontram-se presentes nas inquietações dos pacientes em psicoterapia. A partir deste panorama, recebemos no consultório pessoas fragilizadas em busca de acolhimento. Uma sobrecarga de sentimentos como medo, raiva, pânico, insegurança, desespero se conectam e se transformam em sensações de desamparo e impotência. Quando não compreendidos e verbalizados, esses sentimentos podem encontrar expressão através de sintomas físicos.

Sentir-se sem saída, desprotegido, e sem saber o que fazer diante do caos, causa confusão mental e emocional. Em decorrência disso surgem frustrações, culpa e preocupações em demasia. Tendemos a pensar que esse momento aterrorizante nunca terá fim e que não podemos fazer nada para mudar. Não nos conformamos com as injustiças do mundo e ter consciência delas o tempo todo pode ser torturador. O ser humano não tolera esta posição por muito tempo, busca compensar a angústia e ignorar parte dessas verdades cotidianas. Dessa maneira, nos iludimos e procuramos pelo prazer instantâneo: compramos mais, comemos mais, viajamos mais, transamos mais… Logo que saciarmos essas vontades, voltamos à dolorosa realidade e já começaremos a planejar outro artifício para nos alienar frente ao nosso sofrimento. Será, então, que podemos considerar essa estratégia saudável?

“Eu vejo a violência”
Quando a perturbação de acompanhar o cotidiano estiver insuportável, busque apoio!

Chegamos à conclusão que não conseguiremos mudar o mundo sozinhos, mas nem por isso precisamos negar o que está acontecendo. Conversar com os amigos, viajar, adquirir um novo objeto pode nos proporcionar prazer momentâneo e ter um efeito terapêutico, mas está longe de ser terapia e resolver nossas questões. Nenhuma dessas opções trará sentido para o que não conseguimos explicar. Quando a vida não estiver fazendo sentido é recomendado parar, refletir e se reconectar consigo mesmo. Caso contrário podemos adoecer.

 Como o psicólogo pode ajudar?

O processo psicoterapêutico proporciona integração, reorganização emocional e fortalecimento para que o sujeito encontre sua maneira de estar no mundo. Porém, dividir com o psicólogo nossas inquietações não é bater-papo no barzinho. O psicoterapeuta é um profissional capacitado tecnicamente a desenvolver uma escuta diferenciada e imparcial. Ele é um guia. Sua função é orientar quem o procura em busca das soluções para seus problemas. O psicólogo não irá julgar suas opções, apenas lhe ajudará a refletir sobre qual será a alternativa mais funcional e resolutiva.

Durante o tratamento, colaborativamente, psicólogo e paciente, construirão uma relação de confiança, e no seu decorrer identificarão quais as habilidades e competências o indivíduo possui para lidar com o mundo. Em caso de necessidade o profissional o auxiliará a consolidar algumas e desenvolver outras estratégias e ferramentas. A maturidade adquirida na terapia tem efeito duradouro, pois nos capacita a compreender, por exemplo: quando estamos cedendo à fantasia e nos escondendo da realidade; o que é de nossa competência resolver e reconhecer o que não está em nossas mãos.

Encontrar um tempo para nos ouvir, pensar e falar sobre nós pode ser esclarecedor e poderoso. Em tempos de crise torna-se necessário aproveitar as oportunidades em busca de qualidade de vida. Para nos reerguer é preciso nos adaptar e estar aberto às mudanças. O crescimento pessoal virá de forma gradual, mas permanente.

Para refletir…